o marinheiro, lasso e trabalhado,
de um naufrágio cruel já salvo a nado,
só ouvir falar nele o faz medroso,
e jura que, em que veja bonançoso
o violento mar e sossegado,
não entre nele mais, mas vai forçado
pelo muito interesse cobiçoso;
assi, Senhora, eu, que da tormenta
de vossa vista fujo, por salvar-me,
jurando de não mais em outra ver-me:
minh’alma, que de vós nunca se ausenta,
dá-me por preço ver-vos, faz tornar-me
O soneto abrange o tema do Amor, especificamente os efeitos negativos que a visão da mulher amada provoca.
O sujeito poético, ao longo das duas quadras, fala de uma metafórica aventura pelo mar que se tornou violento e que provocou um naufrágio, do qual o marinheiro conseguiu salvar-se: “… o marinheiro, lasso e trabalhado,/ de um naufrágio cruel já salvo a nado, …”.
Embora este lhe tenha provocado medo, depois de se encontrar fora do mar, por interesse, regressa: “só ouvir falar nele o faz medroso,…” ; “ jura (…) / não entrar nele mais, mas vai, forçado / pelo muito interesse cobiçoso, …”. Esta metáfora – que acaba por se tornar numa imagem – remete para o homem que, perdido de amores, jura não voltar a amar, porém acaba por voltar a apaixonar-se.
No início da primeira quadra e do primeiro terceto, o sujeito poético utiliza termos de comparação: “Como” (verso 1) e “Assi” (verso 9), estabelecendo uma relação de semelhança entre o mar tempestuoso e a sua amada, o que permite a descodificação de toda a metáfora do “mar tempestuoso” como relação amorosa.
Consciente de que ver a amada é uma “tormenta” (v.9), o poeta tenta salvar-se: “de vossa vista fujo, por salvar-me” (v.10), no entanto, tal como o marinheiro que regressa ao mar, também o sujeito lírico acaba por voltar ao convívio com a amada o que o leva ao sofrimento: “minh’alma, que de vós nunca se ausenta,/ dá-me por preço ver-vos, faz tornar-me/ donde fugi tão perto de perder-me”.
Deveras interessante.
ResponderEliminarmuito obrigado
ResponderEliminarmaluco
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