Ditoso seja aquele que somente
Se queixa de amoras esquivanças,
Pois por elas não perde as esperanças
De poder n’algum tempo ser contente.
Ditoso seja quem, estando ausente,
Não sente mais que a pena das Lembranças,
Porque inda que se tema de mudança,
Menos se teme a dor quando se sente.
Ditoso seja, enfim, qualquer estado
Onde enganos, desprezos e isenção
Trazem o coração atormentado.
Mas triste quem se sente magoado
De erros em que não pode haver perdão,
Sem ficar n’alma a mágoa de secado.
Formalmente o poema “Ditoso seja aquele que somente” de Luís de Camões é um soneto, pois é constituído por duas quadras e dois tercetos em verso decassílabo. O texto obedece ao esquema rimático ABBA / ABBA / CDC / CDC, havendo rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada em CDC.
O soneto aborda o tema do sofrimento e surge como uma espécie de oração.
Nas três primeiras estrofes, há um pedido, que surge em anáfora (ditoso seja), para que um conjunto de seres seja feliz: todos aqueles que se queixam que o amor lhes foge, aqueles que têm saudades e todos aqueles que ainda obedecem ao amor: “Ditoso seja aquele que somente/ Se queixa de amor as esquivanças,”; “Ditoso seja quem, estando ausente,/ Não sente mais que a pena das lembranças,” e “Ditoso seja, enfim, qualquer estado/ Onde enganos, desprezos e isenção/ Trazem o coração atormentado.” Porém, apesar do sofrimento, todos estes ainda podem ser felizes, pois têm esperanças ou aguardam com saudades, porque ainda não obtiveram o amor, ou estão distantes, mas podem vir a obtê-lo ou recuperá-lo.
Porém, a última estrofe introduz a oposição (mas) é triste aquele que comete erros sem perdão, pois não terá acesso a esperanças de felicidade: “Mas triste quem se sente magoado/ De erros em que não pode haver perdão/ Sem ficar n’alma a mágoa de secado".
Fábio Pinto
Fábio Gonçalves
segunda-feira, 9 de março de 2009
Ditoso seja aquele que somente
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