segunda-feira, 9 de março de 2009

Aquela Triste e Leda Madrugada



Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade,
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se d`ua outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
que duns e doutros olhos derivadas,
s`acrescentaram em grande e largo rio;

Ela viu as palavras magoadas,
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso as almas condenadas.


Este texto é constituído por duas quadras e dois tercetos em metro decassilábico, com esquema rimático, ABBA/ABBA/CDC/CDC, verificando-se a existência de rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada em CD.
O soneto aborda a separação de dois sujeitos que estiveram juntos e o sofrimento que essa separação provocou, utilizando o termo anafórico “Ela”, que substitui a palavra madrugada ao longo do poema, referindo-a como única testemunha desse afastamento. O sentimento predominante neste soneto é a tristeza.
A madrugada é personificada e testemunhou até ao fim a separação dos amantes: “Ela só viu…”, ocorrida no momento em que o dia nascia, trazendo luz e beleza à terra: “…quando amena e marcchetada/ saía, dando ao mundo claridade”. A esta beleza de uma madrugada primaveril opõe-se o sofrimento dos amantes que se separam, e que surge apresentado em metáfora que se transforma em hipérbole: “… as lágrimas em fio” que se acrescentaram em “grande e largo rio”.
O soneto termina com a separação definitiva dos amantes, que é acompanhada por palavra “magoadas” que metaforicamente vão atenuar o fogo da paixão, tornando-o frio, e proporcionando, de certa forma, alívio às almas condenadas ao inferno do sofrimento.

Análise realizada por: Joel Horta e Hugo Vidal

8 comentários:

  1. Desculpe mas há uma coisa mal nesta análise. O esquema rimático é ABBA/ABBA/CDC/DCD e a rima em CD é cruzada.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Já agora, "viu apartar-se d'hũa outra vontade" ("hũa" é "uma" no português antigo e clássico, e ainda se usa no Ceará, Brasil) e, no último verso, é "às almas condenadas"

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